Esquecimento
O Tempo é o maior agente transformador do Espaço.
Em todas as suas camadas e especificidades é ele que continuamente molda a matéria. Neste
espectáculo situamos o espaço num tempo muito singular, o Entardecer. É nesta altura que o lugar
concreto e bem delimitado aos nossos olhos se começa a desmaterializar. As cores são absorvidas da matéria e encaminhadas para o céu, as formas tornam-se silhuetas, a individualidade dilui-se
vagarosamente até se tornar na mancha una do tempo Noite.
É neste tempo de transformação que o espectáculo se manifesta. É o lugar da desmaterialização, e, portanto, mais do que construir uma cenografia concreta, pareceu-me mais justo centrar-me na
captação deste fluxo de transformação, como se de uma paisagem viva se trata-se.
Sempre tive a suspeita de que o mundo é mais líquido do que o vejo.
Foi no gesto da pintura que, tentei encontrar o veículo para o expressar. No gesto de manchas
líquidas que se vão encaminhando, completando e adensando, camada por camada, tempos a
tempos.
O trabalho de composição desta tela é completado apenas por um esboço, uma sugestão de
paisagem exterior, o contorno de uma árvore e pequenas vegetações, ou raízes? As linhas que o
sintetizam e que aconchegam a cena criam não só uma ponte entre os corpos dos actores e o céu
mas também uma escala do lugar.
Nota mental: ter sempre em conta o jogo e o papel interpretativo fundamental do espectador em
relação à cena.
A nuvem surge como matéria essencial e transformadora, intocável e mirabolante. Flexível na sua
forma e nas múltiplas leituras, mas que a seu jeito, seja uma urgência, um aviso, uma miragem ou
um desejo, possa ecoar em cada um de nós.
Como é difícil o equilíbrio entre o que é materializado e o que é sugerido. Como se torna uma tarefa ainda mais difícil contornar as imagens em palavras, mas independentemente disso e, como o texto tão sabiamente nos diz, é preciso falar das nuvens!
Apresentações
Teatro Viriato, Viseu 2022
Teatro das figuras, Faro 2023
Ficha Artística e técnica
Texto: Guilherme Gomes
Encenação: criação colectiva
Interpretação: Bernardo Souto, Guilherme Gomes, João Reixa, Rita Cabaço, Nídia Roque
Cenografia: Ângela Rocha
Figurinos: Teatro da Cidade
Desenho de luz e operação: Rui Seabra
Desenho de som: Sofia Queiroz
Captação e edição de vídeo: Pedro Jorge
Registo fotográfico e vídeo: Luís Belo
Produção: Margarida Silva
Co-Produção: Teatro Viriato
Agradecimentos: Ana Paula Correia, Ana Rita Soares dos Santos, Beatriz Maia, CAL – Primeiros Sintomas, Caratina Caixeiro, Centro Cultural e Recreativo dos Coruchéus, Elsa Almeida, Joana Villaverde, João Nunes, João Pedro Plácido, Luís Belo, Lília Basílio, Manuel Calado, Maria João Garcia, Município de Viseu, Mário Rui Santos, Patrícia Portela, Polícia Judiciária, Rita Carvalho, Rui Macário, Rui Xavier, Sofia Queiroz, equipa d’O Espaço do Tempo e equipa do Teatro Viriato
Apoios para a criação do projecto: Direcção Geral das Artes; Município de Viseu – Eixo Cultura; Fundação GDA; Teatro Viriato; RTP Palco; Garantir Cultura – Fundo de Fomento Cultura