É um texto tão emblemático que já transportamos um bocadinho dele em todos nós.
Numa abordagem que se pretende contemporânea, e com uma força já tão grande no valor das palavras, resta-me criar um jogo cénico o mais simples possível para que o texto ganhe a sua justa dimensão e espaço de respiração.
A proposta de um jogo geométrico austero e racional, apresenta-nos duas rampas colocada simetricamente, que confluem inevitavelmente uma para a outra. Os corpos que nela assentam precipitam-se e confrontam-se, uma inexorabilidade que não tem ponto de encontro ou ponto de fuga, determinado pela colocação das rampas em paralela. A trama está criada, como se dois gumes de espadas se tratassem, as rampas são espelhadas, refletindo o poder e frieza de cada uma das poderosas casas em tensão.
Este ambiente é apenas quebrado pelo surgimento do lado emocional, numa reinterpretação da varanda da Julieta como um coração anatómino. Nessa cena emblemática, Julieta fala do alto do coração e Romeu declara-se ao mesmo. Uma emoção que se agiganta e que nos conquista.
Este coração foi esculpido à mão em folha de latão. Um coração dourado aquece o ambiente, contrariando a frieza metalizada anterior.
Apenas um outro elemento rasga a cena, aquando da morte de Julieta e Romeu. Um longo telão, igualmente dourado, pontua uma ideia de religião: a verticalidade e a ascensão.